Canção do Mestiço


Mestiço!

Nasci do negro e do branco
E quem olhar para mim
É como se olhasse
Para um tabuleiro de xadrez:
A vista passando depressa
Fica baralhando cor
No olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
Uma alma feita de adição
Como 1 e 1 são 2.

Foi por isso que um dia
O branco cheio de raiva
Contou os dedos das mãos
Fez uma tabuada e falou grosso:
-mestiço!
A tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!
            Mas eu não me danei…
E muito calminho
Arrepanhei o meu cabelo para trás

Fiz saltar fumo do meu cigarro
Cantei do alto
A minha gargalhada livre
Que encheu o branco de calor!...

Mestiço!

Quando amo a branca
            Sou branco…
Quando amo a negra
            Sou negro.
            Pois é…

Ilha de Nome Santo, Francisco José Tenreiro

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