Como o Vento


O fugaz passeio que me leva ao conhecimento da cidade esconde a beleza demorada desta. É um manto de modernidade, um ruído furioso da maquinaria que impede a perceção do mundo no seu estado puro.
Mas o mundo tende a impor-se, de uma qualquer forma. Pela raridade do que é natural, atualmente destaca-se a pureza no meio do betão. Levanta-se o vento. O cabelo é fustigado pela sua força. Apesar do calor da solidão, há algo novo que este vento traz. Uma mudança invisível, que nos conforta interiormente, pelo simples facto de adrenalizar o sentimento de novidade, necessidade do ser humano.
O cabelo levanta voo. A força exercida pelo vento é imensa. Urge encontrar abrigo, que nos proteja como se de uma mãe se tratasse. Aproximo-me do tronco e só então percebo que a árvore já fora despida. Reconheço que não tinha reparado nesse pormenor. A sua postura sedutora envolveu-me, aliada já ao descrito estado de nudez. O seu erotismo dançava-me em frente aos olhos. Enganei-me. Esta árvore não era mãe, mas sim uma prostituta. Mesmo assim não resisti à maternidade desta meretriz e escondi-me nela. O seu regaço era quente como nunca tinha visto. Mas então pensei que nunca tinha trocado a segurança pelo prazer. Já não estava à procura de abrigo, demandava aventura, uma qualquer forma de alheamento feliz e compensatório.
Disciplinei o meu cérebro. Levantei-me e voei com o vento para onde ele me quis levar. Afinal o vento foi feito para nos fazer mover ao seu sabor, não para nos obrigar a esconder, com medo. Ir com o vento é ter coragem.

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