Abrir as Asas e Voar



Que triste figura fazem os que imaginam
Que o mundo só existe para eles
E o tentam descrever num poema ou num romance.
Este pequeno poder ilusório
Infestou há muito as páginas dos livros
Suportado pela bênção de quem os louva.
Muito padecerá quem assim pensar.

A literatura nada muda. Não pode.
Poderão, se tanto, mudar as regras
Que a regulam e limitam.
Toda a vida se escreveram livros
Que falam de outros livros
Que falam de outros lugares,
Que falam de outras pessoas.
A Literatura está cansada
Dos jogos do poder e da vaidade
Que em nome dela se praticam.
A literatura quer viver a sua vida
Sem ter quem a policie e interprete.
Não quer estar confinada aos laboratórios,
Nem ao exercício interminável da pesquisa.

Ela fala de pessoas e dos seus dramas
E não gosta que a cataloguem ou classifiquem.
Às vezes apetece-lhe abrir as asas e voar.

O Livro Branco da Melancolia, José Jorge Letria

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