Dom Casmurro
Copos espalhados pela mesa. O grupo de convivas
bebe o vinho da união, alegra-se e esquece o demais. Um deles fala
desalmadamente dos seus pais, outro das suas saídas noturnas, outro das suas
namoradas… É neste ambiente quente que se desenrola o ato da traição. Chega a
rapariga, com calças de ganga justas e uma camisa branca. Do lugar onde está,
um dos convivas olha discretamente para ela. Os olhares são furtivos e
repetidos, mas nos quais se denota uma vergonha imensa, mas também um amor sincero,
não apenas desejo carnal. À parte disto, um outro dos do grupo limita o seu
campo de visão à mulher. Não conversa mais, a não ser que seja para se exibir,
conquistando a atenção da rapariga. Esta mostra que necessita de atenção e, mal
saem do restaurante, embora misturados com o grupo, os dois juntam-se, formando
uma espécie de grupo à parte e nunca mais se largam. Há apenas uma pessoa que
repara nisto: aquele que tem um amor puro e que apenas lança olhares. O par
fica junto até à hora da despedida. Quando chegarem cada um a sua casa vão
trocar mensagens, talvez até combinar encontros para os seguintes dias. Mas
antes de tudo isto, a rapariga vai no carro com o seu amigo calmo e
envergonhado. Quando findou a viagem, ela olhou-o descontraidamente e atirou-lhe
com um ‘boa noite’ terno mas desinteressado. O rapaz sente-se invadido por uma
imensa tristeza, mas responde também afetuosamente. Não se devem direcionar os
conflitos para quem os não merece. O jovem entra em casa e lança-se para cima
da cama, chorando incontrolavelmente: ‘Porque é que tenho amigos?’
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